sexta-feira, 17 de maio de 2013

AS DERROTAS DO BENFICA


 

NO PORTO E EM AMESTERDÃO

O Benfica jogou a sua nona final europeia – 7 na Taça/Liga dos Campeões e 2 na Taça UEFA/Europa – e a imprensa de todo o mundo, desta vez, atribuiu a derrota à “maldição” de Bela Guttman que embora não seja o que se diz começa cada vez mais a parecer-se com aquilo que dela se conta.

Realmente, a “maldição” do Benfica é ter jogado 9 finais contra o Barcelona, Real Madrid, Milan (2 vezes), Inter de Milão, Manchester United, Chelsea, PSV e Anderlecht. Ou seja, exceptuando o Anderlecht que não é um grande europeu, apesar de crónico vencedor do campeonato belga e, em certa medida, do PSV (que até já deu 5-0 ao Porto na Taça dos Campeões), também sempre presente nas competições europeias, os restantes dispensam apresentações tanto no presente como historicamente. Por isso, a “maldição” do Benfica é nunca ter jogado uma final contra uma equipa da 2.ª divisão ou contra uma equipa que nunca ganhou um campeonato na sua terra! Mesmo assim ganhou duas, como se sabe, uma contra o Barcelona, outra contra o Real Madrid à época penta campeão europeu!

O jogo de quarta-feira não teve nada a ver com a de sábado passado. Se o Benfica tivesse jogado no Porto como jogou em Amesterdão a esta hora já seria campeão. O jogo de quarta-feira é um daqueles em que uma equipa como o Benfica sofre as consequências de jogar numa liga como a portuguesa. Em jogos internacionais desta envergadura, o domínio exercido sobre o adversário tem de ser convertido em golos sob pena de a surpresa a todo o momento poder aparecer.

Provavelmente há alguma desconcentração durante a marcação do canto. Provavelmente, terá pesado na mente dos jogadores a derrota no Porto no último minuto. Mas nada do que se passou nesses breves segundos, por mais importantes que tenha sido para o desfecho da partida, poderá anular ou fazer esquecer o que se passou durante todo o tempo restante.

E o que nós vimos, o que todo o mundo viu, durante todo o jogo, foi um Benfica manifestamente superior ao Chelsea em todos os domínios da partida.

É certo que os golos do Chelsea não resultam tanto do mérito do adversário como de falhas da equipa do Benfica. No primeiro golo, houve uma falha de, pelo menos, dois jogadores, embora o trabalho realizado por Torres tenha sido de grande classe e merece o aplauso de quem gosta de futebol. Já o segundo, resulta de uma incompreensível falta de marcação de quem tinha a seu cargo aquele sector da zona, tanto mais incompreensível quanto é certo saber-se que aquele era um dos pontos fortes do Chelsea.

Não pode, por isso, falar-se de azar, mas pode dizer-se que o Benfica foi superior ao adversário, fez uma exibição vistosa, que enche de satisfação os amantes do futebol, com duas fatídicas falhas pontuais, nomeadamente a última.

Os comentadores de futebol, viciados no comentário em função do resultado do jogo ou, noutros casos, obcecados pelas suas simpatias clubistas ou por outros interesses, prevalecem-se desse resultado para analisar o jogo do fim para o princípio e desfigurar completamente o que se passou em campo.

Não é assim com todos. Há também gente séria e competente a comentar, nomeadamente na RTP Informação. Mas isso é raro. O mais frequente é ouvirmos comentadores intriguistas que tudo fazem para defender as cores do seu clube, tentando destabilizar o adversário com conversas aparentemente técnicas. De futebol não percebem praticamente nada, passando a maior parte do seu tempo na intriga, na insinuação, na maledicência, enfim, na tentativa de criação de um clima que em última instância possa servir as suas cores. O expoente máximo deste tipo de comentadores é Rui Santos.

Depois há outros que tendo ficado profundamente decepcionados com o resultado entram num verdadeiro delírio crítico procurando pôr tudo em causa, chegando ao ridículo de menosprezar as últimas quatro épocas do Benfica em comparação com o que se passou nos cinco ou seis anos anteriores, onde, com excepção de Trappatoni e porventura de Fernando Santos, o que se viu foi um Benfica inconsistente e sem perspectivas. É o caso de Jorge Baptista cujas críticas nunca são objectivas, raramente têm nada a ver com que o se passou no jogo, mas com os seus estados de alma ou, porventura, com a defesa de interesses insuficientemente explicados.

Não quer isto dizer que Jorge Jesus não tenha cometido erros, alguns deles graves, e não tenha falhas como treinador. Certamente que sim. O seu maior erro foi não ter rodado a equipa no jogo contra o Estoril, como aqui logo se referiu, e depois do desaire não ter encarado noutros termos o jogo contra o Porto. Esses, os dois grandes erros da época cometidos num tempo em que já era proibido errar.

Como treinador, as suas maiores falhas são, porém, de comunicação. Não se trata tanto de criticar o modo como diz, mas o que diz. Jesus incorre frequentemente em triunfalismo fácil que se tem revelado fatal. Essa euforia em que Jesus incorre, entusiasmado com a qualidade do seu trabalho, acaba por ter efeitos perniciosos sobre a própria equipa. Este ano Jesus deve ter definitivamente compreendido que a vitória verdadeiramente só existe depois de conquistada e não enquanto se conquista.

Se Jesus tiver compreendido bem o que se passou na sua vida de treinador entre sábado e quarta feira à noite será certamente um treinador mais competente nos anos que vem, fique ele no Benfica ou não.

Sem comentários: